Experiência não é carro com faróis virados pra trás...
Preciso fazer uma confissão: mesmo que alguns digam que experiência é um carro c
Valacir Marques Gonçalves
Preciso fazer uma confissão: mesmo que alguns digam que experiência é um carro com os faróis virados para trás, não vou desistir; vou dizer ao mundo que não aguento mais ver meu salário encolher. Que estou no limite, que o ponteiro da minha resistência bateu na reserva. Continuarei exigindo que expliquem por que é tão difícil entender que congelamento de salário é incompatível com inflação. Não deixarei que esqueçam que os integrantes dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário têm as mesmas necessidades e aspirações. E, por favor, não me enviem boatos otimistas, nem falsas tabelas, elaboradas, certamente, com a ajuda do capeta. Andava evitando esse assunto. Como disse no começo, ninguém quer saber de estórias passadas, mas elas podem ensinar algumas coisas. Podem lembrar que nunca ganhamos nada ao final de greve alguma. Que num passado ainda presente, o Supremo Tribunal Federal impôs o fim de uma que se arrastava sem solução, mesmo depois de algumas superintendências da PF serem ocupadas pelo Exército. Foi um fim de greve melancólico, como sempre. Como um dos dirigentes e co-fundador do primeiro sindicato de policiais do país - que também estava ocupado -, me emocionei ao pedir que os companheiros voltassem aos seus postos. Que retornassem aos seus lares de cabeça erguida, e explicassem para suas famílias que lutamos até onde foi possível. Que não era o fim de nada, era apenas um começo. E foi mesmo! Continuamos a luta, e por um longo tempo estivemos entre as categorias mais prestigiadas do país. Analisar um fim uma greve é difícil, qualquer tentativa é rechaçada, às vezes, com desprezo e ironia por alguns. Não é referência a ninguém, mas não consigo deixar de lembrar a velha estória de gente que espera o fim dos combates para descer ao campo de batalha para matar os feridos... Embora possam dizer que os meus faróis estão voltados pra trás, insisto em olhar para frente. Imagino a tortura que os nossos dirigentes sindicais foram submetidos. Da quantidade de reuniões a que foram obrigados a comparecer para negociar com quem tinha ordem de não negociar... Era jogo ensaiado - até as alfaces da nossa horta sabiam que a “solução” seria transferida para a próxima reunião... Quem tivesse alguma esperança, a perderia lendo as declarações dos burocratas governamentais: “A ordem é não afrouxar. Não ceder além do que já foi oferecido”. Era evidente que eles queriam desorientar quem estivesse no outro lado da mesa - enfraquecer as lideranças era missão... Descobri como agem “negociadores” do calibre de um Mendonça, do MPOG, do Secretário Carvalho, da PR, e também de gente como o Luís Inácio (não é o Lula), o da AGU, que diz que “o limite foi alcançado, que não há mais como ‘tolerar’ greves”... Alguém precisa lembrar a esse cidadão que quem decreta ilegalidade de greve é a Justiça. Mas estou preocupado, bateu em mim uma inesperada saudade do falecido Duvanier. Burocrata escolado, exercia seu métier nos enrolando com uma certa “ternura”, com um brilho nos olhos que parecia estar com vontade de nos atender... Hoje nada espero da Miriam e sua turma; estou convicto de que ela saiu da Idade Média carregando as máquinas de tortura. Foi demais: para quem está sem reajuste há tanto tempo, quinze por cento em conta-gotas, durante três anos, é deboche... O pessoal antigo vai ter que rezar para estar vivo até lá. Ela vai dar essa garantia... Não duvido de mais nada - tudo pode acontecer, como também nada pode acontecer... Enquanto isso, em reação à greve, dizem que os quinze por cento em três anos “é pegar ou largar”... Cortam ponto, determinam o redirecionamento de verbas e por aí afora. Ao mesmo tempo, ameaçam atribuições da PF com a ajuda de uma praga que está proliferando: os “invejosos de plantão”, que mesmo tendo atribuições claramente definidas, usurpam funções que não são deles, realizando, enfim, o sonho de suas vidas, que é o de fazer o que a Polícia Federal faz... Nos próximos concursos para ingresso nessas instituições, deveriam escrever em letras garrafais que os cargos não dão direito a realizar atribuições da PF, e nem a receber como tal. Mas parece que isso só será efetuado se os policiais federais nada mais reivindicarem, concordando que não merecem ter salário e atribuições dignas da importância da atividade que exercem. Deixo claro que não estou criticando colega algum; sei perfeitamente que os sindicatos devem fazer o que os seus associados deliberarem. Mas continuo acreditando que companheiros de luta podem trocar experiências, passadas e presentes, pois é daí que podem surgir ideias que nos inspirem a encontrar soluções para o momento difícil que atravessamos. Concluindo, li que a presidenta Dilma disse que os policiais federais querem aumento de salário porque integram um grupo de grevistas de sangue azul... Como torcedor do Grêmio, eu já sabia desse grande segredo - é uma característica que não é novidade para quem ama o imortal tricolor... Mas na condição de policial federal, não posso concordar. É óbvio que gente de “sangue azul” não é submetida a tanta penúria. PS: Um imenso pensador argentino disse, um dia, que esteve num lugar onde observou pessoas vivendo com tanta dificuldade, que se Deus existe, por lá não passou... Ouso discordar dele: Deus existe, mas o MPOG controla o salário daquela gente... e-mail [email protected] blog www.valacir.com