Seria mais fácil ter desistido
Para se alcançar um resultado positivo a perseverança dos policiais é fundamental
Hélio Freitas, agente da PF
Os primeiros raios solares anunciam mais um típico dia do verão carioca, o ar condicionado ligado da viatura descaracterizada ameniza os efeitos do bafo quente que vem de fora. O agente federal Rodrigues, atrás do volante do veículo estacionado no bairro Leme, olha para seu relógio, em seguida reforça a orientação para o colega ao lado: “David, são 5:50h, daqui a dez minutos vai abrir a porta do autoatendimento da agência. Só agiremos quando a central de monitoramento do banco indicar que o bandido colocou o chupa-cabra (dispositivo que captura dados do cartão inserido na máquina).
Teremos no máximo quatro minutos para chegar à agência e prendê-lo antes que saia do local e escape do flagrante”. O novato policial indaga: “Além da nossa viatura, só tem mais uma para cobrir toda a zona do sul do Rio. Será que vai dar tempo”? Rodrigues compreende a preocupação, afinal percorrer a grande extensão em tão pouco tempo não seria tarefa fácil, mas ainda assim responde com confiança: “Se de fato os bandidos agirem nesse final de semana, conforme se supõe, teremos pelo menos uma chance”.
Com essa postura, Rodrigues, matrícula mais antiga, coordena o trabalho em campo e repassa segurança ao grupo. De vez em quando, mantém contato com a outra equipe, formada pelos agentes Gilson e Correa, que se encontra a 7,5km de distância e permanece em pronto emprego no bairro Leblon. A vigilância de apenas dois lugares pelos policiais, num universo de mais de vinte agências espalhadas por diversas ruas da área mapeada pela segurança bancária, põe em xeque o êxito do serviço.
Os dados qualificativos dos criminosos são desconhecidos, suas comuns características físicas não os diferem de outros clientes do banco que entram e saem continuamente das áreas dos terminais. Os minutos passam, se transformam em horas, a espera excessiva é mais um desafio para a manutenção do ânimo dos policiais, se soma outras tantas incertezas. Porém, às 9:45h, toca o celular de Rodrigues, no visor aparece o nome do responsável pela central, que rapidamente transmite o recado: “Suspeito dentro da agência Av. Nossa Sra. de Copacabana”. Quebra-se a monotonia, é a senha tão aguardada.
David pelo celular retransmite para a outra equipe o mesmo alerta, ao mesmo tempo em que ajeita seu cinto de segurança. O tempo estimado de oito minutos para percorrer a distância é desconsiderado. Rodrigues coloca o giroflex no teto do carro, arranca o automóvel, canta pneu, a estridente sirene é acionada, adrenalina invade o corpo, o tumultuado trânsito tem que ser suplantado, os veículos de passeio são ultrapassados, sinais vermelhos avançados, populares ficam espantados.
Poucos minutos restam para o sujeito finalizar a instalação do dispositivo e sair do autoatendimento, quando as duas viaturas, mesmo tendo seguido por caminhos diferentes, chegam no mesmo instante em frente à agencia da longa avenida. Rodrigues, com distintivo pendurado no pescoço e pistola na mão, salta do carro mal estacionado, segue na frente, visualiza o malandro ainda dentro do recinto: “Polícia Federal, no chão, no chão!” O ladrão, aturdido, pego de surpresa, obedece ao comando. Momento em que Gilson, com fuzil empunhado dá cobertura. Notam que o larápio está com a calça toda urinada, a contundência dos homens da lei lhe provocou o desarranjo.
Os funcionários da central de monitoramento acompanham pelas telas a ação em tempo real, vibram com o resultado. A parceria é exitosa, mas, apesar da euforia, o serviço ainda não está encerrado. Uma equipe leva o detido para a sede da PF na Praça Mauá, a outra retorna para o ponto de partida. Ao longo do sábado, mais três pessoas, integrantes de diferentes quadrilhas, são presas em outras agências pelos mesmos agentes. Rodrigues sabe que as compreensíveis dúvidas diante de tantas dificuldades, seria mais fácil ter desistido. Somente do início da noite, o trabalho está concluído.
Hélio C. Freitas Filho, agente de polícia federal, carioca, casado, radicado no Espírito Santo, Bacharel em Direito e Administração.