Resgatando nossa história - Conheça Renato Cabral, agente aposentado na PF do ES
Na primeira matéria desta série vamos conhecer a história do agente especializado no combate às drogas
Marcus Vieira
Comunicação Sinpf-ES
Poucos dias antes da entrevista ele acabara de completar cinco anos de aposentadoria, algo que faz questão de começar contando no início da nossa conversa.
O dia 21 de junho de 2017 é relevante para Renato Cabral, agente da Polícia Federal que fez carreira na área de combate às drogas da corporação. Hoje, aos 57 anos, ele lembra com orgulho do seu tempo na ativa e das boas histórias que pode contar.
Morando em Brasília com os pais, ele foi selecionado no concurso de 1987 e lembra que aquele ano foi marcante na vida do jovem de 22 anos. Em poucos meses ele passou no concurso, assumiu o cargo em Cuiabá (MT) e a esposa deu à luz à filha.
Algum tempo depois aceitou voltar para Brasília, mas o contexto da época não ajudou a nova fase da família na capital federal. Em um ano eles estavam retornando para Cuiabá: “Peguei a época do pior salário da Polícia Federal em Brasília e 80% do que ganhava eu usava apenas para o aluguel”.
Renato ainda atuou em Ilhéus (BA) e, numa conjunção de fatores, houve oportunidade para a transferência da esposa, servidora da Receita Federal. Assim, ele veio para o Espírito Santo para acompanhá-la.
“No ES eu encontrei alguns dos melhores Policiais Federais com quem já trabalhei. Eram profissionais extremamente capacitados e dedicados”, elogia o saudoso agente especializado da Divisão de Entorpecentes.
A partir de 2008, ele foi convidado a integrar a Coordenação Geral de Repressão a Entorpecentes e Combate a Facções Criminosas (CGPRE), onde atuou por quatro anos em diferentes locais, entre São Paulo, Brasília e Pernambuco (no Polígono da Maconha). A grande especialização no tema ele aprofundou em cursos até nos Estados Unidos, na Academia do DEA (Administração de Fiscalização de Drogas, em português).
Ao retornar à Superintendência capixaba, sentiu que muita coisa havia mudado por aqui.
“Encontrei uma equipe muito diferente, com novos profissionais. Após uma greve realizada, que não foi bem gerenciada pela direção, bons policiais foram afastados do nosso setor. Essa ferida foi aberta pela superintendência no ES e nunca mais foi fechada. Nem aqui no Espírito Santo e em nenhum lugar do Brasil. Aqui, a direção entendeu que deveria afastar aqueles policiais do combate a entorpecentes, espalhando-os por outros setores”.
Novos padrões de atuação
No trabalho em si o agente também sentiu muitas mudanças. “Ficamos muito tempo baseados quase 100% em interceptação telefônica, mas esse modelo já tinha se esgotado lá atrás. Se esgotou muito antes de termos aplicativos de mensagens criptografadas. Essa forma de investigação se esgotou quando, no desejo de mostrarem serviço, os delegados se viam na necessidade de apresentar grampos de ligações nos jornais a todo instante. Aí o criminoso parou de usar as ligações para combinar ações”, apontou Cabral.
Como vê a PF hoje?
Podendo olhar de fora o espaço onde esteve inserido por tantos anos, hoje ele percebe que há impotência das forças policiais, diante dos muitos direitos garantidos aos criminosos e o excesso de restrições impostas aos policiais.
“Entendo que o policial é a primeira barreira ao esquema criminoso, mas essa barreira está fragilizada. A pessoa por trás da farda pensa duas vezes em realizar algo que possa comprometê-lo judicialmente depois.”
Recordar é viver – que histórias sempre conta sobre a PF?
Em dezembro de 98, uma investigação que fizemos na Grande Vitória me deu orgulho da equipe que a gente tinha.
Estávamos há alguns meses acompanhando as ações de um grupo que vinha de Pernambuco e pretendia embarcar drogas pelo Porto de Vitória. Na reta final, ficamos uma semana inteira acompanhando-os em diferentes pontos e estávamos cansados.
Numa noite, perdemos os suspeitos de vista na Praia da Costa (Vila Velha) a equipe brigou por conta daquele vacilo e desistimos de continuar naquela madrugada. Um colega pegou a moto dele, voltou para Vila Velha para procurar os alvos e, por coincidência, viu o carro deles nas proximidades do Porto de Capuaba.
Voltaram para as ruas, mapeando novamente os passos dos investigados. E, no dia seguinte, no fim da tarde, o chefe da quadrilha, que veio de Pernambuco, parou nas proximidades do antigo Aquaviário e entendemos que eles iriam começar a embarcar os pacotes para o navio, através de uma “catraia” (pequena embarcação).
“Demos um show de vigilância!”
Na noite do dia seguinte, eles iniciaram o transporte pela catraia, então, junto com lanchas da Praticagem parte da equipe abordou os caras e prendeu o chefe da quadrilha, dois tripulantes do navio e cerca de 45 kg de drogas – para a época era uma quantidade significativa.
Naquele mesmo dia estava marcada uma festa do Sindicato dos Policiais, nossas esposas já estavam se preparando para ir à festa e nós lá na rua, atuando. Ou seja, não teve festa para a equipe de Entorpecentes.
Mas ficaram faltando dois suspeitos, que estavam no carro que estávamos acompanhando antes.
Pela manhã, saindo de casa para fazer uma prova na faculdade, vejo o mesmo carro parado na minha rua e começo a ligar para os colegas. Todos dormindo, depois de trabalhar até tarde. Um colega, Denilton, conseguiu chegar, nós dois abordamos e prendemos eles na saída do prédio onde estavam.
“Se não fosse a nossa persistência a gente tinha perdido o flagrante”.
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